Confesso que nunca fui um entusiasta das novas tecnologias. Recorro a elas, uso-as, tiro delas algum proveito. Utilizo-as no meu trabalho. Também na sala de aula, até com frequência, ao contrário do que este texto poderá dar a entender. Mas só isso. Nunca vi nelas o Santo Graal da humanidade e estão longe de me deixar extasiado, por muito benéficas, úteis ou revolucionárias que sejam. E são-no, claramente. No fundo, deve tratar-se de algo visceral, intrínseco em mim. Novas tecnologias sim, mas…
Como explicar?!
Se por um lado podem ser excelentes auxiliares de trabalho e facilitar em muito a nossa existência a todos os níveis, por outro encaro-as com uma certa reserva, até porque as considero – com as suas playstations, i-phones, telemóveis, messengers, Hi5 e afins – responsáveis pelo abandono a que as nossas gerações mais jovens votaram outros prazeres tão fundamentais como a leitura, as histórias, ou mesmo o simples jogo da bola ou da apanhada. E como lhes fazem falta!
Bota-de-elástico?? Talvez, que seja!
Acredito que a maioria dos nossos alunos está tão inebriada, tão intoxicada com as novas tecnologias de difusão e de comunicação que, na realidade, seria até desejável manter um espaço de acção que pudesse ser relativamente “livre” delas.
Não sei se será defeito essencialmente meu (admito que seja) mas aflige-me até à medula verificar que parecem ser incapazes de realizar um trabalho de pesquisa sem recorrer ao Google; que nunca consultaram outra Enciclopédia que não a Wikipédia; que todos os trabalhos de pesquisa que lhes solicitamos acabam por ser iguais, porque todos são decalcados directamente das três ou quatro primeiras entradas que o Google disponibiliza sobre o assunto; que muitas vezes não procuram sequer seleccionar ou trabalhar a informação que recolhem, limitando-se a imprimir os textos sem tão pouco retirarem as indicações do site, género “Web page 1 of 3”…
Enfim, creio que a internet, neste campo, veio, em conjunto com outros factores, instilar um certo laxismo entre a nossa miudagem que me preocupa. Deveras!
À excepção dos manuais escolares, o manuseamento e a leitura de livros, dicionários, gramáticas e enciclopédias deixou de fazer parte dos hábitos da esmagadora maioria dos nossos jovens. Nas Bibliotecas Escolares são essencialmente os computadores que são procurados. Uma tristeza.
Mas o facto inegável é que vivemos numa sociedade onde a manipulação e a utilização de informação em suporte digital online é não só um hábito, mas uma realidade incontornável. Seja via PSPs, telemóveis de última geração ou ipods, os jovens estão em permanente contacto com um mundo profundamente tecnológico e, como tal, não faz obviamente sentido manter as novas tecnologias afastadas do processo de ensino-aprendizagem, sob pena de este vir a alienar ainda mais o público-alvo, que é naturalmente a última coisa que queremos enquanto educadores.
Quanto ao género de consequências que daí advirão… o tempo o dirá.
Mas lá que o potencial de aprendizagem que estas novas tecnologias permitem é maior que nunca… isso é! Definitivamente.
Sendo assim, o que fazer então? Trata-se de, como em tantas outras áreas da existência, encontrar um ponto de equilíbrio saudável. Numa frase, há que usar as novas tecnologias, mas fazendo-o bem. Com equilíbrio, com bom senso.
Penso que já dei conta de que não sou particularmente favorável a uma utilização massiva das novas tecnologias no ensino apenas “porque sim”, porque é “hype”, “trendy”, “cool” ou porque os alunos gostam. Sou sim pela utilização de meios, estratégias e recursos que permitam quer a professores quer a alunos desenvolver o seu potencial e as suas capacidades aos mais diversos níveis, o que implica a utilização quer de meios tradicionais (sim, os livros!! Sim as enciclopédias!! Sim o estudo, e o sublinhado e os tópicos e os esquemas e a tabuada e a memorização e as datas e as capitais e tudo isso que tem sido renegado e menosprezado a favor de uma didáctica “moderna” e “virada para o aluno”) quer, então, dos meios tecnológicos, cujo enorme potencial para o ensino-aprendizagem, aliás, reconheço e já sublinhei.
Será a utilização de blogues útil nesta perspectiva?
Acredito francamente que sim, embora também creia que tal não é aplicável em todas as situações, nem em todos os grupos de alunos, nem em todos os níveis de ensino. Todavia o potencial do blogue na construção do processo de ensino-aprendizagem é apreciável, sobretudo pela perspectiva de trabalho colaborativo que envolve. A interacção que permite não só entre professor e alunos, mas também entre professor, alunos, pais, comunidade escolar e, em última análise, a comunidade alargada de aprendentes um pouco por todo o mundo não é despicienda. O potencial comunicativo é vasto e o capital de confiança e de entusiasmo que pode suscitar num aluno que publica e vê os seus pensamentos, opiniões e trabalhos apreciados, valorizados e comentados é de um valor incalculável. Já nem falo nas vantagens organizativas que proporciona ao trabalho do professor, permitindo o contacto com pais, alunos e colegas, o posting de informação, de listas de leitura ou de vocabulário, de TPC e de links de interesse relacionados com os conteúdos abordados nas aulas. Favorece ainda o fortalecimento da relação pedagógica entre professor e aluno estabelecendo uma via aberta para feedback, comentários, dúvidas e esclarecimentos, favorecendo o verdadeiro ensino individualizado e de proximidade. Possibilita ainda a utilização de meios multimédia, ou inclusivamente a reorientação e redefinição de metodologias e de actividades de ensino em função do feedback recebido pelos alunos. São todas excelentes qualidades.
Valorizo portanto o blogue como um espaço de reflexão e de construção conjunta de aprendizagens. Tem um potencial enorme para fomentar a partilha de opiniões, de ideias, de visões e de experiências entre uma comunidade alargada, através do feedback proporcionado pelos comentários. Faculta a criação de autênticas comunidades de aprendentes e, se devidamente aproveitado, pode tornar o blogging um processo de construção de aprendizagens altamente crítico e reflexivo e, logo, eficiente e desejável.
Por último, aquela que, na minha opinião, pode tornar-se a mais-valia da utilização do blogue no processo educativo: o blogue permite ao aluno publicar as suas ideias, submetê-las à apreciação dos seus pares e discuti-las, argumentar, reflectir. A multiplicidade de visões e de ideias e de opiniões oferece não só numerosas oportunidades para reflectir e, consequentemente, aprender, como têm o mérito de tornar o aluno numa parte activa no processo de ensino-aprendizagem. O aluno, ao publicar, comentar, reler, responder, reflectir, rebater, criticar, passa de uma situação em que muitas vezes se coloca (ou é colocado) numa posição periférica, quase exterior ao processo, para o seu centro, com os ganhos motivacionais inerentes. É preciso é que o faça! A questão é: fa-lo-á?
Em vários textos diferentes li que mais do que uma ferramenta, o blogue é uma experiência de aprendizagem. Será, sem dúvida. Talvez até seja um modo de estar no processo de ensino-aprendizagem mais adequado e mais adaptado a uma sociedade globalizada e tecnologicamente evoluída.
Porém, lá está, tal só acontece se todos os participantes do processo fizerem dele um uso adequado. Idealmente, isso aconteceria e, nesse caso, teríamos uma comunidade de aprendentes motivada, colaborativa, crítica, participativa, intelectualmente curiosos e dinâmicos, todos interagindo no sentido de se tornarem aprendentes não só eficientes como altamente autónomos num processo de aprendizagem auto-regulado e assente na reflexão individual ou em grupo. Isso, por sua vez, implicaria pesquisa regular, leituras frequentes, capacidades de escrita (e vontade de o fazer) as quais, ipso facto, muitas vezes não existem nos nossos alunos.
Podem ser estimuladas? Pois podem com certeza.
Seria bom se tudo pudesse correr tão bem como acabei de escrever no parágrafo anterior? Mais do que bom, seria maravilhoso! Assim como seria maravilhoso se o socialismo utópico desenvolvido no século XIX fosse exequível.
Talvez um dia venhamos a atingir um estádio de desenvolvimento que torne tudo isto possível. Até que isso aconteça, cabe-nos ir fazendo pela vida, procurando caminhar na direcção certa. Um passo de cada vez, mesmo que a direcção certa acabe por levar-nos para fora da nossa “comfort zone”.