quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Ensino High Tech
Enquanto fazia uma pesquisa sobre o tema de hoje, deparei-me com esta pérola da RTP. Por acaso recordo-me de ter visto esta peça em primeira mão, no Jornal da Tarde, já lá vão uns meses…
Ora reza a notícia de que oito salas de duas escolas básicas de Espinho estão já equipadas com "uma das mais inovadoras tecnologias de ensino do mundo". E arredores, permitam-me o acrescento.
A plataforma informática chama-se Camões. E alia-se ao Magalhães para transformar a aula numa experiência mais atractiva.
Portanto, cá estamos lançados rumo ao Quinto Império! Cinco séculos depois da epopeia dos Descobrimentos, voltamos a desbravar caminhos nunca antes percorridos, a trazer novos mundos ao mundo e a preparar o nosso domínio global do planeta que há-de vir. Ou pelo menos assim gostamos de apresentar a coisa! Agora, depois do inefável “Magalhães”, temos o “Camões”. Perdoem-me o sarcasmo, mas… preocupa-me o cenário trágico em que a educação do ensino básico se está a tornar... vejam o vídeo... o que acham?
País - Salas de ensino do futuro - RTP Noticias, Vídeo
Mas só se pode ensinar se for divertido?!?
Nada pode dar trabalho?!?
Mas que ética de trabalho e de valorização do estudo e do esforço é que estamos a passar?
Um aluno diz "Antes nós tínhamos de escrever, agora não..."... e outra criancinha: "é mais fácil, é mais divertido..." WHATTA F***!!?!?
A sério, isto de pensar que os alunos vão chegar à Universidade sem saber escrever "à mão" (para não falar das tendinites precoces por só estarem ao computador) deixa-me cá com uma urticária!!
Ensinar a escrever com caneta electrónica, outra ideia "espantástica"... será tão mais eficiente do que usar caneta sobre papel?! Pelo amor da santa!
Tecnologia na sala de aula só porque sim?? Não contem comigo para isso, mesmo que a minha avaliação no item “domínio das TIC” roce o zero!!
A tecnologia nas escolas pode ser (e é-o de facto!) um aliado importante dos educadores e dos alunos, mas, para que seja eficaz, é necessária uma modificação na forma como o ensino é pensado. Antes de mais, há que estruturar um sólido projecto pedagógico e então introduzir a tecnologia, MODERADAMENTE, onde for interessante, exequível e EFICIENTE!
Não adianta atulhar as Escolas de Magalhães, Camões e quejandos (espero ansiosamente pelo programa Bartolomeu Dias, que deve chegar já em 2010, ano em que a África do Sul estará sob todos os holofotes) se estes meios não estiverem cuidadosamente integrados nas actividades das diferentes disciplinas.
É preciso clareza de propósito para a utilização da tecnologia. Se uma actividade pode ser feita de forma mais rápida, simples e igualmente eficaz utilizando meios não-tecnológicos, como papel, lápis de cor e cola, não há sentido em fazer isso usando o computador, só porque o lápis de cor está "out".
O recurso tecnológico deve ser usado quando efectivamente oferece algo que não poderia ser feito com a mesma eficácia por meios convencionais.
Ressalvo, mais uma vez, que nada me move contra a utilização de novas tecnologias no ensino. Mas tudo tem o seu peso e a sua medida.
A tecnologia não deve excluir, de forma nenhuma, o ensino clássico. A ideia é que ambos se complementem de modo a obter os melhores resultados possíveis.
E esta história do Camões… já me soa quase a doutrinação! Tudo tem que ser subordinado ao PC, ao online, ao digital… náááááá!...
Como diz a miudagem quando por vezes vou longe demais numa actividade, correcção, ou extensão do exercício: “Ó stôr!!... Menos!”
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
T.E.F.L. - o "melhor método"
T.E.F.L. – o “melhor método”
Há tempos conversava com uma colega. A dada altura veio a lume a questão do “melhor método”. Que “o melhor método para ensinar uma língua é pôr os alunos a aprender em situações comunicativas reais.” – dizia essa minha colega de trincheira. Não discordo. Porém, como dizia o outro, também “disconcordo” com essa visão.
O facto é que, quanto a mim, podemos teorizar durante dias, escrever livros sobre o assunto, argumentar, expor e fundamentar solidamente opiniões. Mas, no que toca ao “melhor método” de ensinar uma língua estrangeira – ou, neste caso, o Inglês – duvido que alguma vez cheguemos a um consenso sólido. Em primeiro lugar porque professores são um pouco como treinadores de bancada. Acham sempre que a sua “táctica”, ou abordagem, ou metodologia, se preferirmos, é que é! E se nem sempre é a melhor (porque somos capazes de admitir isso) é sempre, no mínimo, "a melhor possível dadas as circunstâncias".
Em segundo lugar, nunca chegaremos a uma conclusão sobre o “melhor método” porque este é tão variável e idiossincrático como o são os aprendentes!
Em suma, não creio que haja verdadeiramente um “melhor método”. Há sim um conjunto de métodos mais ou menos adequados a cada grupo de formandos.
Aliás, irei mesmo mais longe... Penso que é importante desmistificar (senão mesmo pôr um fim) à crença de muitos educadores na existência do "melhor método".
Já baseamos as aulas em gramática e em tradução, por exemplo. Depois, optou-se pelo método audiolinguístico, baseado na audição e repetição oral. No meu tempo de aluno, era o método situacional (com conteúdos pautados por eventos como "no aeroporto", "na loja" etc.). Mais tarde, já enquanto professor, acreditava-se na abordagem comunicativa, que recrimina o uso da primeira língua, só permitindo no espaço da sala de aula o recurso à língua estrangeira. E focámo-nos em leitura e em role play, em interpretação de texto e em exercícios de alargamento vocabular e campo semântico, em jogos linguísticos e skills comunicativas… melhor método??
Sabemos que, no fundo, cabe ao professor analisar a turma que tem para actuar bem. Ou, pelo menos, para actuar o melhor possível. Esta busca por receitas mais ou menos milagrosas só mudará com um estilo de formação reflexiva – algo que nos obrigue a questionar a nossa própria actuação e, simultaneamente, nos capacite para avaliar a realidade em que actuamos a fim de aplicar princípios de ensino e de aprendizagem que funcionem para o grupo de estudantes que temos em cada sala de aula.
Portanto, mais do que de métodos, há que falar em princípios e em diferentes possibilidades de implementá-los. De certo modo, para o docente, isso complica a situação, já que é muito mais fácil pegar numa qualquer receita, aplicá-la, e esperar que “apure”. Mas, na verdade, parece-me que os resultados de um qualquer processo de ensino-aprendizagem dependerão sempre mais da análise do professor em relação ao que fazer perante a realidade em que seus alunos estão inseridos, do que do “método ideal”.
E se não existe um método perfeito, é também porque a eficácia da aprendizagem depende fundamentalmente do objectivo da pessoa ao aprender um idioma. Não se aprende à força e por osmose também não resulta. Já verifiquei isso mais do que uma vez, ao passar um bom aluno para o lado do que sentia mais dificuldades…
Além disso, o que já todos ouvimos bem mais do que uma vez são coisas do calibre de “p’ra quéq quero saber Inglês?!” e afins, independentemente de usarmos manuais,trabalhos de grupo ou individuais, role play, filmes, meios multimédia ou internet. Como tal, há é que entender por quê, para quê, como e o que ensinar – e creio que nessa ordem.
Hoje em dia, para o bem ou para o mal, os alunos já não são recipientes dispostos a “serem ensinados”. É preciso convencê-los, isto se quisermos que aprendam algo. Tentar fazer com que passem a valorizar o segundo idioma, com que entendam qual a importância de aprendê-lo para a sua Educação – fazê-los ver, enfim, o que a aprendizagem do Inglês lhes permite no contexto mundial actual e, sobretudo, o que perderão e o que lhes estará vedado se não o dominarem.
É neste âmbito que os novos media, tecnologias como a internet e ferramentas como os blogues, os wikis, ou, inclusivamente, os fóruns de conversação online podem dar o seu contributo para mudar os conteúdos e a maneira de leccionar Inglês.
Estes podem e devem ser usados para realizar tarefas que despertem o interesse dos estudantes, já que usar essas novas tecnologias é um meio de estabelecer uma relação evidente e pragmática entre a aprendizagem e a realidade dos alunos.
Todavia, como em todas as metodologias anteriores, o uso de novas tecnologias, de internet e de recursos / ferramentas pedagógicas online também não é a tal “receita”, o tal “melhor método”… é, digamos, uma boa possibilidade a explorar, se a turma o recomendar. Noutros casos, não poderá ser mais do que um complemento a outras metodologias. Em caso nenhum será um maná milagroso quer porá todos a aprender e a comunicar alegremente em língua inglesa.
Há tempos conversava com uma colega. A dada altura veio a lume a questão do “melhor método”. Que “o melhor método para ensinar uma língua é pôr os alunos a aprender em situações comunicativas reais.” – dizia essa minha colega de trincheira. Não discordo. Porém, como dizia o outro, também “disconcordo” com essa visão.
O facto é que, quanto a mim, podemos teorizar durante dias, escrever livros sobre o assunto, argumentar, expor e fundamentar solidamente opiniões. Mas, no que toca ao “melhor método” de ensinar uma língua estrangeira – ou, neste caso, o Inglês – duvido que alguma vez cheguemos a um consenso sólido. Em primeiro lugar porque professores são um pouco como treinadores de bancada. Acham sempre que a sua “táctica”, ou abordagem, ou metodologia, se preferirmos, é que é! E se nem sempre é a melhor (porque somos capazes de admitir isso) é sempre, no mínimo, "a melhor possível dadas as circunstâncias".
Em segundo lugar, nunca chegaremos a uma conclusão sobre o “melhor método” porque este é tão variável e idiossincrático como o são os aprendentes!
Em suma, não creio que haja verdadeiramente um “melhor método”. Há sim um conjunto de métodos mais ou menos adequados a cada grupo de formandos.
Aliás, irei mesmo mais longe... Penso que é importante desmistificar (senão mesmo pôr um fim) à crença de muitos educadores na existência do "melhor método".
Já baseamos as aulas em gramática e em tradução, por exemplo. Depois, optou-se pelo método audiolinguístico, baseado na audição e repetição oral. No meu tempo de aluno, era o método situacional (com conteúdos pautados por eventos como "no aeroporto", "na loja" etc.). Mais tarde, já enquanto professor, acreditava-se na abordagem comunicativa, que recrimina o uso da primeira língua, só permitindo no espaço da sala de aula o recurso à língua estrangeira. E focámo-nos em leitura e em role play, em interpretação de texto e em exercícios de alargamento vocabular e campo semântico, em jogos linguísticos e skills comunicativas… melhor método??
Sabemos que, no fundo, cabe ao professor analisar a turma que tem para actuar bem. Ou, pelo menos, para actuar o melhor possível. Esta busca por receitas mais ou menos milagrosas só mudará com um estilo de formação reflexiva – algo que nos obrigue a questionar a nossa própria actuação e, simultaneamente, nos capacite para avaliar a realidade em que actuamos a fim de aplicar princípios de ensino e de aprendizagem que funcionem para o grupo de estudantes que temos em cada sala de aula.
Portanto, mais do que de métodos, há que falar em princípios e em diferentes possibilidades de implementá-los. De certo modo, para o docente, isso complica a situação, já que é muito mais fácil pegar numa qualquer receita, aplicá-la, e esperar que “apure”. Mas, na verdade, parece-me que os resultados de um qualquer processo de ensino-aprendizagem dependerão sempre mais da análise do professor em relação ao que fazer perante a realidade em que seus alunos estão inseridos, do que do “método ideal”.
E se não existe um método perfeito, é também porque a eficácia da aprendizagem depende fundamentalmente do objectivo da pessoa ao aprender um idioma. Não se aprende à força e por osmose também não resulta. Já verifiquei isso mais do que uma vez, ao passar um bom aluno para o lado do que sentia mais dificuldades…
Além disso, o que já todos ouvimos bem mais do que uma vez são coisas do calibre de “p’ra quéq quero saber Inglês?!” e afins, independentemente de usarmos manuais,trabalhos de grupo ou individuais, role play, filmes, meios multimédia ou internet. Como tal, há é que entender por quê, para quê, como e o que ensinar – e creio que nessa ordem.
Hoje em dia, para o bem ou para o mal, os alunos já não são recipientes dispostos a “serem ensinados”. É preciso convencê-los, isto se quisermos que aprendam algo. Tentar fazer com que passem a valorizar o segundo idioma, com que entendam qual a importância de aprendê-lo para a sua Educação – fazê-los ver, enfim, o que a aprendizagem do Inglês lhes permite no contexto mundial actual e, sobretudo, o que perderão e o que lhes estará vedado se não o dominarem.
É neste âmbito que os novos media, tecnologias como a internet e ferramentas como os blogues, os wikis, ou, inclusivamente, os fóruns de conversação online podem dar o seu contributo para mudar os conteúdos e a maneira de leccionar Inglês.
Estes podem e devem ser usados para realizar tarefas que despertem o interesse dos estudantes, já que usar essas novas tecnologias é um meio de estabelecer uma relação evidente e pragmática entre a aprendizagem e a realidade dos alunos.
Todavia, como em todas as metodologias anteriores, o uso de novas tecnologias, de internet e de recursos / ferramentas pedagógicas online também não é a tal “receita”, o tal “melhor método”… é, digamos, uma boa possibilidade a explorar, se a turma o recomendar. Noutros casos, não poderá ser mais do que um complemento a outras metodologias. Em caso nenhum será um maná milagroso quer porá todos a aprender e a comunicar alegremente em língua inglesa.
sábado, 28 de novembro de 2009
Um mundo melhor sim! Mas para quem o mereça!!
Há dias, ao atravessar o pátio da secundária de Rio Maior, cruzei-me com dois gabiruzinhos, daqueles "com pinta". Calças da moda bem abaixo das nalgas, aquele rosto fechado que muitas vezes têm, simultaneamente sofredor e dono do mundo (não sei como conseguem fazê-lo!!), postura de emo, cabelinhos de corte pós-moderno, demi-negligé, que nos meus tempos de meninice chamávamos o "cabelo à fo**-**". Estão a ver, não é?
Cada um deles trazia um daqueles aparelhómetros que não sei bem se são um telemóvel, uma PSP ou um leitor de mp3 ou 4 (provavelmente será tudo isso e mais)numa mão e um snack qualquer na outra.
A embalagem, em ambos os casos, atirada para o chão, bem nas minhas venerandas barbas, e com o caixote de lixo a menos de dois metros.
De pronto, sai-me a lição de moral a que a minha provecta idade e a minha deformação profissional me obrigam. E na cara deles lia-se com todas as letras "mas o que é que este palhaço quer?!" No meio disto fiquei a sentir-me pior do que eles.
Tudo isto, meus amigos, para dizer o quê?
Bom, chamem-me quadradão e ultrapassado, mau feitio e vinagreiro mas perante coisas deste género e piores, que vemos e ouvimos falar e sabemos existirem todos os dias, tenho mesmo que me perguntar: Falamos tanto da necessidade de deixar 'um planeta melhor para os nossos filhos'
mas... Diabos me levem!! E quanto à urgência de deixarmos filhos melhores para o nosso planeta, hein?! Que tal pensar nisso?!?!
Minimamente educados, compassivos, responsáveis, compreensivos, humildes... ciosos dos seus direitos como são e, não obstante, com o sentido de dever que lhes falta em absoluto??
No fundo, e que tal exigir-lhes um pouquinho de humanidade??
Eu sei bem que a natureza é um ciclo que se abre e fecha, mas nunca esperei que o regresso ao homem das cavernas se desse no meu tempo de vida, caramba!!
Cada um deles trazia um daqueles aparelhómetros que não sei bem se são um telemóvel, uma PSP ou um leitor de mp3 ou 4 (provavelmente será tudo isso e mais)numa mão e um snack qualquer na outra.
A embalagem, em ambos os casos, atirada para o chão, bem nas minhas venerandas barbas, e com o caixote de lixo a menos de dois metros.
De pronto, sai-me a lição de moral a que a minha provecta idade e a minha deformação profissional me obrigam. E na cara deles lia-se com todas as letras "mas o que é que este palhaço quer?!" No meio disto fiquei a sentir-me pior do que eles.
Tudo isto, meus amigos, para dizer o quê?
Bom, chamem-me quadradão e ultrapassado, mau feitio e vinagreiro mas perante coisas deste género e piores, que vemos e ouvimos falar e sabemos existirem todos os dias, tenho mesmo que me perguntar: Falamos tanto da necessidade de deixar 'um planeta melhor para os nossos filhos'
mas... Diabos me levem!! E quanto à urgência de deixarmos filhos melhores para o nosso planeta, hein?! Que tal pensar nisso?!?!
Minimamente educados, compassivos, responsáveis, compreensivos, humildes... ciosos dos seus direitos como são e, não obstante, com o sentido de dever que lhes falta em absoluto??
No fundo, e que tal exigir-lhes um pouquinho de humanidade??
Eu sei bem que a natureza é um ciclo que se abre e fecha, mas nunca esperei que o regresso ao homem das cavernas se desse no meu tempo de vida, caramba!!
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Dado que já recebi comentários de colegas que ficaram algo chocadas com a minha aparente falta de entusiasmo pelas novas tecnologias, talvez deva aproveitar para um pequeno esclarecimento...
Contrariamente ao que quem me leu até agora já deve julgar, eu não sou um conservador empedernido, nem um defensor dos métodos "do antigamente". Nada disso. ~
O que acontece é que fundamentalismos e exageros de qualquer espécie sempre me causaram uma certa urticária, pelo que resisto a esta ideia generalizada de que as novas tecnologias nos salvarão da barbárie e da indegência intelectual, e de que o facto de haver um Magalhães em cada casa fará das nossas crianças melhores alunos.
Lamento, senhoras e senhores, mas isso não acontecerá, até porque como todos sabemos não faltam por aí já Magalhães à venda na Feira do Relógio...
Essencial mesmo é modificar as atitudes de todos - alunos, pais, professores, Executivos, Ministério - perante a aprendizagem. Há que tomar consciência de que nem sempre pode ser lúdica e divertida e assumir que por vezes até pode ser difícil, aborrecida e trabalhosa. Sim, aprender DÁ TRABALHO!!!
Quando, finalmente, conseguirmos convencer todos os agentes que aprender é importante e que exige trabalho e concentração... aí sim teremos resultados, independentemente de recorrermos a livros, blogues ou às lousas da bisavó.
Os blogues são uma ferramenta muito mais poderosa que a lousa? Evidente.
Mas não muda o essencial.
Quer escreva numa lousa ou num écran de computador, o aluno tem que estar disposto a aprender.
Contrariamente ao que quem me leu até agora já deve julgar, eu não sou um conservador empedernido, nem um defensor dos métodos "do antigamente". Nada disso. ~
O que acontece é que fundamentalismos e exageros de qualquer espécie sempre me causaram uma certa urticária, pelo que resisto a esta ideia generalizada de que as novas tecnologias nos salvarão da barbárie e da indegência intelectual, e de que o facto de haver um Magalhães em cada casa fará das nossas crianças melhores alunos.
Lamento, senhoras e senhores, mas isso não acontecerá, até porque como todos sabemos não faltam por aí já Magalhães à venda na Feira do Relógio...
Essencial mesmo é modificar as atitudes de todos - alunos, pais, professores, Executivos, Ministério - perante a aprendizagem. Há que tomar consciência de que nem sempre pode ser lúdica e divertida e assumir que por vezes até pode ser difícil, aborrecida e trabalhosa. Sim, aprender DÁ TRABALHO!!!
Quando, finalmente, conseguirmos convencer todos os agentes que aprender é importante e que exige trabalho e concentração... aí sim teremos resultados, independentemente de recorrermos a livros, blogues ou às lousas da bisavó.
Os blogues são uma ferramenta muito mais poderosa que a lousa? Evidente.
Mas não muda o essencial.
Quer escreva numa lousa ou num écran de computador, o aluno tem que estar disposto a aprender.
sábado, 7 de novembro de 2009
há relação entre blogues e socialismo? (se calhar há, mas não pelas razões que pensa ;-) )
Confesso que nunca fui um entusiasta das novas tecnologias. Recorro a elas, uso-as, tiro delas algum proveito. Utilizo-as no meu trabalho. Também na sala de aula, até com frequência, ao contrário do que este texto poderá dar a entender. Mas só isso. Nunca vi nelas o Santo Graal da humanidade e estão longe de me deixar extasiado, por muito benéficas, úteis ou revolucionárias que sejam. E são-no, claramente. No fundo, deve tratar-se de algo visceral, intrínseco em mim. Novas tecnologias sim, mas…
Como explicar?!
Se por um lado podem ser excelentes auxiliares de trabalho e facilitar em muito a nossa existência a todos os níveis, por outro encaro-as com uma certa reserva, até porque as considero – com as suas playstations, i-phones, telemóveis, messengers, Hi5 e afins – responsáveis pelo abandono a que as nossas gerações mais jovens votaram outros prazeres tão fundamentais como a leitura, as histórias, ou mesmo o simples jogo da bola ou da apanhada. E como lhes fazem falta!
Bota-de-elástico?? Talvez, que seja!
Acredito que a maioria dos nossos alunos está tão inebriada, tão intoxicada com as novas tecnologias de difusão e de comunicação que, na realidade, seria até desejável manter um espaço de acção que pudesse ser relativamente “livre” delas.
Não sei se será defeito essencialmente meu (admito que seja) mas aflige-me até à medula verificar que parecem ser incapazes de realizar um trabalho de pesquisa sem recorrer ao Google; que nunca consultaram outra Enciclopédia que não a Wikipédia; que todos os trabalhos de pesquisa que lhes solicitamos acabam por ser iguais, porque todos são decalcados directamente das três ou quatro primeiras entradas que o Google disponibiliza sobre o assunto; que muitas vezes não procuram sequer seleccionar ou trabalhar a informação que recolhem, limitando-se a imprimir os textos sem tão pouco retirarem as indicações do site, género “Web page 1 of 3”…
Enfim, creio que a internet, neste campo, veio, em conjunto com outros factores, instilar um certo laxismo entre a nossa miudagem que me preocupa. Deveras!
À excepção dos manuais escolares, o manuseamento e a leitura de livros, dicionários, gramáticas e enciclopédias deixou de fazer parte dos hábitos da esmagadora maioria dos nossos jovens. Nas Bibliotecas Escolares são essencialmente os computadores que são procurados. Uma tristeza.
Mas o facto inegável é que vivemos numa sociedade onde a manipulação e a utilização de informação em suporte digital online é não só um hábito, mas uma realidade incontornável. Seja via PSPs, telemóveis de última geração ou ipods, os jovens estão em permanente contacto com um mundo profundamente tecnológico e, como tal, não faz obviamente sentido manter as novas tecnologias afastadas do processo de ensino-aprendizagem, sob pena de este vir a alienar ainda mais o público-alvo, que é naturalmente a última coisa que queremos enquanto educadores.
Quanto ao género de consequências que daí advirão… o tempo o dirá.
Mas lá que o potencial de aprendizagem que estas novas tecnologias permitem é maior que nunca… isso é! Definitivamente.
Sendo assim, o que fazer então? Trata-se de, como em tantas outras áreas da existência, encontrar um ponto de equilíbrio saudável. Numa frase, há que usar as novas tecnologias, mas fazendo-o bem. Com equilíbrio, com bom senso.
Penso que já dei conta de que não sou particularmente favorável a uma utilização massiva das novas tecnologias no ensino apenas “porque sim”, porque é “hype”, “trendy”, “cool” ou porque os alunos gostam. Sou sim pela utilização de meios, estratégias e recursos que permitam quer a professores quer a alunos desenvolver o seu potencial e as suas capacidades aos mais diversos níveis, o que implica a utilização quer de meios tradicionais (sim, os livros!! Sim as enciclopédias!! Sim o estudo, e o sublinhado e os tópicos e os esquemas e a tabuada e a memorização e as datas e as capitais e tudo isso que tem sido renegado e menosprezado a favor de uma didáctica “moderna” e “virada para o aluno”) quer, então, dos meios tecnológicos, cujo enorme potencial para o ensino-aprendizagem, aliás, reconheço e já sublinhei.
Será a utilização de blogues útil nesta perspectiva?
Acredito francamente que sim, embora também creia que tal não é aplicável em todas as situações, nem em todos os grupos de alunos, nem em todos os níveis de ensino. Todavia o potencial do blogue na construção do processo de ensino-aprendizagem é apreciável, sobretudo pela perspectiva de trabalho colaborativo que envolve. A interacção que permite não só entre professor e alunos, mas também entre professor, alunos, pais, comunidade escolar e, em última análise, a comunidade alargada de aprendentes um pouco por todo o mundo não é despicienda. O potencial comunicativo é vasto e o capital de confiança e de entusiasmo que pode suscitar num aluno que publica e vê os seus pensamentos, opiniões e trabalhos apreciados, valorizados e comentados é de um valor incalculável. Já nem falo nas vantagens organizativas que proporciona ao trabalho do professor, permitindo o contacto com pais, alunos e colegas, o posting de informação, de listas de leitura ou de vocabulário, de TPC e de links de interesse relacionados com os conteúdos abordados nas aulas. Favorece ainda o fortalecimento da relação pedagógica entre professor e aluno estabelecendo uma via aberta para feedback, comentários, dúvidas e esclarecimentos, favorecendo o verdadeiro ensino individualizado e de proximidade. Possibilita ainda a utilização de meios multimédia, ou inclusivamente a reorientação e redefinição de metodologias e de actividades de ensino em função do feedback recebido pelos alunos. São todas excelentes qualidades.
Valorizo portanto o blogue como um espaço de reflexão e de construção conjunta de aprendizagens. Tem um potencial enorme para fomentar a partilha de opiniões, de ideias, de visões e de experiências entre uma comunidade alargada, através do feedback proporcionado pelos comentários. Faculta a criação de autênticas comunidades de aprendentes e, se devidamente aproveitado, pode tornar o blogging um processo de construção de aprendizagens altamente crítico e reflexivo e, logo, eficiente e desejável.
Por último, aquela que, na minha opinião, pode tornar-se a mais-valia da utilização do blogue no processo educativo: o blogue permite ao aluno publicar as suas ideias, submetê-las à apreciação dos seus pares e discuti-las, argumentar, reflectir. A multiplicidade de visões e de ideias e de opiniões oferece não só numerosas oportunidades para reflectir e, consequentemente, aprender, como têm o mérito de tornar o aluno numa parte activa no processo de ensino-aprendizagem. O aluno, ao publicar, comentar, reler, responder, reflectir, rebater, criticar, passa de uma situação em que muitas vezes se coloca (ou é colocado) numa posição periférica, quase exterior ao processo, para o seu centro, com os ganhos motivacionais inerentes. É preciso é que o faça! A questão é: fa-lo-á?
Em vários textos diferentes li que mais do que uma ferramenta, o blogue é uma experiência de aprendizagem. Será, sem dúvida. Talvez até seja um modo de estar no processo de ensino-aprendizagem mais adequado e mais adaptado a uma sociedade globalizada e tecnologicamente evoluída.
Porém, lá está, tal só acontece se todos os participantes do processo fizerem dele um uso adequado. Idealmente, isso aconteceria e, nesse caso, teríamos uma comunidade de aprendentes motivada, colaborativa, crítica, participativa, intelectualmente curiosos e dinâmicos, todos interagindo no sentido de se tornarem aprendentes não só eficientes como altamente autónomos num processo de aprendizagem auto-regulado e assente na reflexão individual ou em grupo. Isso, por sua vez, implicaria pesquisa regular, leituras frequentes, capacidades de escrita (e vontade de o fazer) as quais, ipso facto, muitas vezes não existem nos nossos alunos.
Podem ser estimuladas? Pois podem com certeza.
Seria bom se tudo pudesse correr tão bem como acabei de escrever no parágrafo anterior? Mais do que bom, seria maravilhoso! Assim como seria maravilhoso se o socialismo utópico desenvolvido no século XIX fosse exequível.
Talvez um dia venhamos a atingir um estádio de desenvolvimento que torne tudo isto possível. Até que isso aconteça, cabe-nos ir fazendo pela vida, procurando caminhar na direcção certa. Um passo de cada vez, mesmo que a direcção certa acabe por levar-nos para fora da nossa “comfort zone”.
Como explicar?!
Se por um lado podem ser excelentes auxiliares de trabalho e facilitar em muito a nossa existência a todos os níveis, por outro encaro-as com uma certa reserva, até porque as considero – com as suas playstations, i-phones, telemóveis, messengers, Hi5 e afins – responsáveis pelo abandono a que as nossas gerações mais jovens votaram outros prazeres tão fundamentais como a leitura, as histórias, ou mesmo o simples jogo da bola ou da apanhada. E como lhes fazem falta!
Bota-de-elástico?? Talvez, que seja!
Acredito que a maioria dos nossos alunos está tão inebriada, tão intoxicada com as novas tecnologias de difusão e de comunicação que, na realidade, seria até desejável manter um espaço de acção que pudesse ser relativamente “livre” delas.
Não sei se será defeito essencialmente meu (admito que seja) mas aflige-me até à medula verificar que parecem ser incapazes de realizar um trabalho de pesquisa sem recorrer ao Google; que nunca consultaram outra Enciclopédia que não a Wikipédia; que todos os trabalhos de pesquisa que lhes solicitamos acabam por ser iguais, porque todos são decalcados directamente das três ou quatro primeiras entradas que o Google disponibiliza sobre o assunto; que muitas vezes não procuram sequer seleccionar ou trabalhar a informação que recolhem, limitando-se a imprimir os textos sem tão pouco retirarem as indicações do site, género “Web page 1 of 3”…
Enfim, creio que a internet, neste campo, veio, em conjunto com outros factores, instilar um certo laxismo entre a nossa miudagem que me preocupa. Deveras!
À excepção dos manuais escolares, o manuseamento e a leitura de livros, dicionários, gramáticas e enciclopédias deixou de fazer parte dos hábitos da esmagadora maioria dos nossos jovens. Nas Bibliotecas Escolares são essencialmente os computadores que são procurados. Uma tristeza.
Mas o facto inegável é que vivemos numa sociedade onde a manipulação e a utilização de informação em suporte digital online é não só um hábito, mas uma realidade incontornável. Seja via PSPs, telemóveis de última geração ou ipods, os jovens estão em permanente contacto com um mundo profundamente tecnológico e, como tal, não faz obviamente sentido manter as novas tecnologias afastadas do processo de ensino-aprendizagem, sob pena de este vir a alienar ainda mais o público-alvo, que é naturalmente a última coisa que queremos enquanto educadores.
Quanto ao género de consequências que daí advirão… o tempo o dirá.
Mas lá que o potencial de aprendizagem que estas novas tecnologias permitem é maior que nunca… isso é! Definitivamente.
Sendo assim, o que fazer então? Trata-se de, como em tantas outras áreas da existência, encontrar um ponto de equilíbrio saudável. Numa frase, há que usar as novas tecnologias, mas fazendo-o bem. Com equilíbrio, com bom senso.
Penso que já dei conta de que não sou particularmente favorável a uma utilização massiva das novas tecnologias no ensino apenas “porque sim”, porque é “hype”, “trendy”, “cool” ou porque os alunos gostam. Sou sim pela utilização de meios, estratégias e recursos que permitam quer a professores quer a alunos desenvolver o seu potencial e as suas capacidades aos mais diversos níveis, o que implica a utilização quer de meios tradicionais (sim, os livros!! Sim as enciclopédias!! Sim o estudo, e o sublinhado e os tópicos e os esquemas e a tabuada e a memorização e as datas e as capitais e tudo isso que tem sido renegado e menosprezado a favor de uma didáctica “moderna” e “virada para o aluno”) quer, então, dos meios tecnológicos, cujo enorme potencial para o ensino-aprendizagem, aliás, reconheço e já sublinhei.
Será a utilização de blogues útil nesta perspectiva?
Acredito francamente que sim, embora também creia que tal não é aplicável em todas as situações, nem em todos os grupos de alunos, nem em todos os níveis de ensino. Todavia o potencial do blogue na construção do processo de ensino-aprendizagem é apreciável, sobretudo pela perspectiva de trabalho colaborativo que envolve. A interacção que permite não só entre professor e alunos, mas também entre professor, alunos, pais, comunidade escolar e, em última análise, a comunidade alargada de aprendentes um pouco por todo o mundo não é despicienda. O potencial comunicativo é vasto e o capital de confiança e de entusiasmo que pode suscitar num aluno que publica e vê os seus pensamentos, opiniões e trabalhos apreciados, valorizados e comentados é de um valor incalculável. Já nem falo nas vantagens organizativas que proporciona ao trabalho do professor, permitindo o contacto com pais, alunos e colegas, o posting de informação, de listas de leitura ou de vocabulário, de TPC e de links de interesse relacionados com os conteúdos abordados nas aulas. Favorece ainda o fortalecimento da relação pedagógica entre professor e aluno estabelecendo uma via aberta para feedback, comentários, dúvidas e esclarecimentos, favorecendo o verdadeiro ensino individualizado e de proximidade. Possibilita ainda a utilização de meios multimédia, ou inclusivamente a reorientação e redefinição de metodologias e de actividades de ensino em função do feedback recebido pelos alunos. São todas excelentes qualidades.
Valorizo portanto o blogue como um espaço de reflexão e de construção conjunta de aprendizagens. Tem um potencial enorme para fomentar a partilha de opiniões, de ideias, de visões e de experiências entre uma comunidade alargada, através do feedback proporcionado pelos comentários. Faculta a criação de autênticas comunidades de aprendentes e, se devidamente aproveitado, pode tornar o blogging um processo de construção de aprendizagens altamente crítico e reflexivo e, logo, eficiente e desejável.
Por último, aquela que, na minha opinião, pode tornar-se a mais-valia da utilização do blogue no processo educativo: o blogue permite ao aluno publicar as suas ideias, submetê-las à apreciação dos seus pares e discuti-las, argumentar, reflectir. A multiplicidade de visões e de ideias e de opiniões oferece não só numerosas oportunidades para reflectir e, consequentemente, aprender, como têm o mérito de tornar o aluno numa parte activa no processo de ensino-aprendizagem. O aluno, ao publicar, comentar, reler, responder, reflectir, rebater, criticar, passa de uma situação em que muitas vezes se coloca (ou é colocado) numa posição periférica, quase exterior ao processo, para o seu centro, com os ganhos motivacionais inerentes. É preciso é que o faça! A questão é: fa-lo-á?
Em vários textos diferentes li que mais do que uma ferramenta, o blogue é uma experiência de aprendizagem. Será, sem dúvida. Talvez até seja um modo de estar no processo de ensino-aprendizagem mais adequado e mais adaptado a uma sociedade globalizada e tecnologicamente evoluída.
Porém, lá está, tal só acontece se todos os participantes do processo fizerem dele um uso adequado. Idealmente, isso aconteceria e, nesse caso, teríamos uma comunidade de aprendentes motivada, colaborativa, crítica, participativa, intelectualmente curiosos e dinâmicos, todos interagindo no sentido de se tornarem aprendentes não só eficientes como altamente autónomos num processo de aprendizagem auto-regulado e assente na reflexão individual ou em grupo. Isso, por sua vez, implicaria pesquisa regular, leituras frequentes, capacidades de escrita (e vontade de o fazer) as quais, ipso facto, muitas vezes não existem nos nossos alunos.
Podem ser estimuladas? Pois podem com certeza.
Seria bom se tudo pudesse correr tão bem como acabei de escrever no parágrafo anterior? Mais do que bom, seria maravilhoso! Assim como seria maravilhoso se o socialismo utópico desenvolvido no século XIX fosse exequível.
Talvez um dia venhamos a atingir um estádio de desenvolvimento que torne tudo isto possível. Até que isso aconteça, cabe-nos ir fazendo pela vida, procurando caminhar na direcção certa. Um passo de cada vez, mesmo que a direcção certa acabe por levar-nos para fora da nossa “comfort zone”.
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domingo, 1 de novembro de 2009
por que ensinamos
O sítio não tem nada de especial.
Há uma estrada pouco frequentada que se afasta do IC2.
À nossa direita, um conjunto habitacional com uma espécie de apartamentos. Tudo meio decrépito e a precisar urgentemente de uma pintura.
Mas uma vez lá chegados, a prisão de Vale de Judeus parece querer intimidar quem se aproxima. Não sei se serão os muros de betão de dez ou doze metros de altura, se as torres de vigia, se a vedação altíssima, tudo encimado por arame farpado com um ar feroz como nunca antes vira… mas quem lá chega pela primeira vez engole em seco.
Depois é a aproximação ao portão principal. Algures uma – ou mais! – câmara de vigilância já nos observa. Toca-se à campainha, a porta de aço gira nos seus gonzos e entramos.
E ela fecha-se logo depois.
E volta-se a engolir em seco quando com um baque surdo se tranca nas nossas costas.
Depois há a revista, os detectores de metais, os portões, os gradões, o esperar que algum guarda chegue lá da outra ponta do estabelecimento para nos dar passagem.
O que realmente se estranha no interior é o muito betão que está à vista, o ar asséptico dos corredores e o curioso facto de, por onde quer que se ande, por onde quer que se passe, sentirmos a falta da luz natural.
Não sei se terá sido projectado propositadamente assim, se será obra do acaso, ou se serão os nossos próprios sentidos que nos iludem, mas o sol não toca a alma de quem se move nos pavilhões do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus.
E é nesse momento que sentimos que não é ali que queremos estar. Que não foi para aquilo que concorremos. Que não devíamos ser obrigados a ir para ali, fazer o nosso trabalho, naquele sítio, com aquelas pessoas. Que tivemos um azar do…! Pois.
Mas fazemos das tripas coração e o trabalho começa.
E um dia entramos na sala de aula e “eles” começam a chegar.
Eles... Traficantes.
Violadores.
Pedófilos.
Assassinos.
Ladrões na melhor das hipóteses.
You name it. La créme-de-la-créme.
Durante um momento, enquanto eles vão chegando, o silêncio pesa.
E depois começamos.
E apresento-me. E eles apresentam-se, um a um.
Uns mais acanhados, outros com mais desembaraço, todos, sem excepção, educados e polidos, respeitando o professor ou professora que ali está diante deles duma forma a que, infelizmente, muitos de nós já se desabituaram nas nossas escolas ditas “normais” com os alunos ditos “normais”.
E de repente esquecemo-nos de onde estamos e diante de quem estamos.
E nem é preciso fazer qualquer esforço por isso.
Fazemos o nosso trabalho e eles fazem (ou tentam fazer) o seu conforme podem.
Muitos só pegaram numa caneta nos últimos vinte anos para assinar o nome. São os que põem a língua de lado enquanto copiam do quadro, como as crianças aplicadas.
E pronto.
Ali dentro da sala de aula já não são nem ladrões, nem assassinos, nem violadores.
Ou serão ainda, mas tal nem passa pelo nosso pensamento.
E de súbito dou por mim não só a emprestar a um deles um x-acto, como depois me esqueço disso e me vou embora no final da aula com toda a naturalidade do mundo!!
Durante noventa minutos, dentro daquela sala, há um momento de redenção.
Se algo é feito neste país pela reintegração e regeneração daqueles indivíduos é naquelas salas de aula.
Há olvido enquanto se ensina e aprende.
Será verdadeiramente essa a magia do ensino?
Há uma estrada pouco frequentada que se afasta do IC2.
À nossa direita, um conjunto habitacional com uma espécie de apartamentos. Tudo meio decrépito e a precisar urgentemente de uma pintura.
Mas uma vez lá chegados, a prisão de Vale de Judeus parece querer intimidar quem se aproxima. Não sei se serão os muros de betão de dez ou doze metros de altura, se as torres de vigia, se a vedação altíssima, tudo encimado por arame farpado com um ar feroz como nunca antes vira… mas quem lá chega pela primeira vez engole em seco.
Depois é a aproximação ao portão principal. Algures uma – ou mais! – câmara de vigilância já nos observa. Toca-se à campainha, a porta de aço gira nos seus gonzos e entramos.
E ela fecha-se logo depois.
E volta-se a engolir em seco quando com um baque surdo se tranca nas nossas costas.
Depois há a revista, os detectores de metais, os portões, os gradões, o esperar que algum guarda chegue lá da outra ponta do estabelecimento para nos dar passagem.
O que realmente se estranha no interior é o muito betão que está à vista, o ar asséptico dos corredores e o curioso facto de, por onde quer que se ande, por onde quer que se passe, sentirmos a falta da luz natural.
Não sei se terá sido projectado propositadamente assim, se será obra do acaso, ou se serão os nossos próprios sentidos que nos iludem, mas o sol não toca a alma de quem se move nos pavilhões do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus.
E é nesse momento que sentimos que não é ali que queremos estar. Que não foi para aquilo que concorremos. Que não devíamos ser obrigados a ir para ali, fazer o nosso trabalho, naquele sítio, com aquelas pessoas. Que tivemos um azar do…! Pois.
Mas fazemos das tripas coração e o trabalho começa.
E um dia entramos na sala de aula e “eles” começam a chegar.
Eles... Traficantes.
Violadores.
Pedófilos.
Assassinos.
Ladrões na melhor das hipóteses.
You name it. La créme-de-la-créme.
Durante um momento, enquanto eles vão chegando, o silêncio pesa.
E depois começamos.
E apresento-me. E eles apresentam-se, um a um.
Uns mais acanhados, outros com mais desembaraço, todos, sem excepção, educados e polidos, respeitando o professor ou professora que ali está diante deles duma forma a que, infelizmente, muitos de nós já se desabituaram nas nossas escolas ditas “normais” com os alunos ditos “normais”.
E de repente esquecemo-nos de onde estamos e diante de quem estamos.
E nem é preciso fazer qualquer esforço por isso.
Fazemos o nosso trabalho e eles fazem (ou tentam fazer) o seu conforme podem.
Muitos só pegaram numa caneta nos últimos vinte anos para assinar o nome. São os que põem a língua de lado enquanto copiam do quadro, como as crianças aplicadas.
E pronto.
Ali dentro da sala de aula já não são nem ladrões, nem assassinos, nem violadores.
Ou serão ainda, mas tal nem passa pelo nosso pensamento.
E de súbito dou por mim não só a emprestar a um deles um x-acto, como depois me esqueço disso e me vou embora no final da aula com toda a naturalidade do mundo!!
Durante noventa minutos, dentro daquela sala, há um momento de redenção.
Se algo é feito neste país pela reintegração e regeneração daqueles indivíduos é naquelas salas de aula.
Há olvido enquanto se ensina e aprende.
Será verdadeiramente essa a magia do ensino?
terça-feira, 27 de outubro de 2009
;-) Oscar Wilde: got to love the guy!
"America is the only country that went from barbarism to decadence without civilization in between. "
"Bigamy is having one wife too many. Monogamy is exactly the same."
"Bigamy is having one wife too many. Monogamy is exactly the same."
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